segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Muito além do peso

A publicidade contamina a cabecinha das crianças e está por toda parte. O Instituto Alana tem lutado há anos pelo fim da publicidade e comunicação mercadológica dirigida ao público infantil. Os pais acabam sofrendo com isso também, pois quando vão contra à publicidade, acabam sendo vistos como "vilões".

Mas muitas vezes os pais acabam desistindo de lutar contra a publicidade. No início não percebem, mas cada vez que cedem quando a criança bate o pé para trocar o almoço pelo salgadinho, é a saúde da criança que está em jogo. 

Alguns dizem "sim" para tudo, para compensar a ausência causada pelo trabalho. Na verdade estão tentando compensar uma carência afetiva com excesso de bobagens, que geram problemas de saúde, limitações físicas, insegurança e mais carência afetiva. 

E se, com menos de 10 anos de idade elas já sentem as consequências do sobrepeso, como será a vida delas aos 40? 

Pais, procurem informações sobre o que é saudável pro seu filho! Procurem o equilíbrio. Conversem com seus filhos! Comer uma besteirinha de vez em quando faz parte do dia a dia das crianças, mas para desfrutar desse prazer, elas precisam ter saúde! Tudo em excesso faz mal. É muito triste e prejudicial à saúde, uma criança precisar "emagrecer".  Mas infelizmente o sobrepeso e a obesidade podem tomar proporções alarmantes para a saúde fazendo com que essas crianças sofram com problemas de adultos: preocupação com o peso, restrições alimentares, medicamentos, depressão, ansiedade, insegurança....e acabam perdendo um tempo precioso da sua infância.




quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Você não é um pote de nutrientes!

Nunca se falou tanto em dietas como nos dias de hoje e ao mesmo tempo nunca a prevalência de obesidade foi tão alta.

Mas então, o que está acontecendo? Porque será que quanto mais acesso à dietas, mais as pessoas engordam? Como será que estamos lidando com tanta cobrança?




Ninguém mais sabe o que fazer com tanta informação. A cada dia, dezenas de dietas surgem e as pessoas estão enlouquecendo. Já não sobra nada no prato, já não sobra mais prazer em comer. Ninguém mais sabe controlar suas vontades, ninguém mais sabe quando tem fome ou quando está saciado, porque sempre existe alguém ou uma dieta que controla isso por elas. Parece que são constantemente vigiadas, controladas o tempo todo. A a internet e a TV não te deixam pensar em outra coisa.. Te fazem pensar 24 horas em dieta, aliás, em tudo aquilo que "você não pode comer". É o tempo todo convivendo com a tentação seguida da palavra “PROIBIDO”, como se seu psicológico precisasse ser testado para provar que é forte o suficiente.



Ninguém mais se sente bem comendo o arroz soltinho da mamãe, o bolinho de fubá da vovó, a sobremesa do Natal, o brigadeiro do aniversário. Isso é “proibido”, “pecado”. “Você tem que passar vontade, sofrer, se punir, ter vergonha na cara”, “só assim será feliz”. Será? Será que o excesso de informações e cobranças realmente ajuda a ter mais saúde?

Os seres humanos deixaram de ter suas características próprias. Todos devem ser iguais para atingir uma meta em comum: ser magro, sarado, comportado, um exemplo a ser seguido. E se tornaram potes de nutrientes. Não podem sentir absolutamente nada ao ingeri-los. “Não sorria ao comer”. “Não diga que está gostoso”. “Você não pode sentir prazer em comer, isso é coisa de gordo”.
Aliás, ingerem em forma de “nutrientes” mesmo e não mais em forma de comida. O único objetivo é levar a substância para dentro da célula. “Coma nutrientes, mas não muito. O mínimo para continuar sobrevivendo e não perder a oportunidade de emagrecer mais e mostrar nas redes sociais”. E “devem fazer muita atividade física para não acumularem o que foi colocado para dentro”. “Devem comer só uma frutinha antes da corrida. E correr o máximo possível. Nada de “carbo”, gordura, açúcar, nem glúten, lactose nem pensar. Resta só a fruta mesmo”. “Musculação também é permitida, você precisa ter músculos para mostrar que é saudável”.



Acredito que essa paranoia tem apenas um objetivo: nos transformar em robôs. Mas, assim como os robôs, o ser humano também “dá defeito”: baixa auto estima, problemas psicológicos, anemia, desnutrição, compulsão alimentar, anorexia, bulimia e mais uma série de problemas que podem ser desencadeados por tanta cobrança.  Só é um pouco mais complicado para "consertar" e as consequências
podem ser irreversíveis.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

O meu com glúten e cobertura extra de lactose, por favor!

Você é satisfeito com seu corpo? Sim? Não? Chegamos a um ponto em que SER INSATISFEITO com o corpo se tornou quase uma obrigação. Não basta ter saúde. É preciso ter o corpo da moça da capa da revista para agradar aos olhos de quem está constantemente observando e julgando. Estamos contaminados pela ditadura da magreza e criando nossos filhos para se tornarem adultos doentes.



Sim, é isso que tenho visto com cada vez mais frequência. As pessoas estão mais e mais insatisfeitas e infelizes. Todos tem uma meta e na maioria das vezes essa meta inclui emagrecer muitos quilos (e cada vez mais), em pouco tempo e a qualquer custo, com ou sem saúde, com ou sem ajuda profissional, com ou sem saúde mental e de preferencia sem glúten e sem lactose. O que importa é emagrecer. Mais importante ainda é sair disseminando essa ideia por ai. A ideia de que só é possível ser feliz magro. Só é possível conquistar um amor, um emprego, uma promoção e até o direito a ir à praia, se você for igualzinha à moça da capa da revista. Aquela moça photoshopada que nem se reconhece na capa daquela revista. Até quem está saudável e satisfeito com seu corpo é forçado a sentir a necessidade de mudar. Não porque acha que não está bem, mas porque a sociedade exige, cobra, critica e não se dá por satisfeita enquanto você não estiver cada vez mais insatisfeito. E se alguém comentar que está feliz assim... vai escutar motivos suficientes para começar a dieta, mudar a cor e o corte do cabelo, ficar com vergonha de ir à praia e ter vontade de trocar de roupa agora mesmo.

“Se a vizinha conseguiu, eu também consigo”. “Se a atriz conseguiu emagrecer para fazer esse papel na TV à base de alface e água eu também posso fazer” (Sim, elas poderiam ficar quietas, mas fazem questão de divulgar este “super segredo” do "emagrecimento-anoréxico-perfeito").
E sempre tem alguém ali bem pertinho de você para te dar “umas dicas ou toques”. “Não come glúten porque engorda”. Ou torcem o nariz diante da sua sobremesa e soltam aquela frase agradável: “Acho que você ganhou peso no último mês”. Ou a clássica: "Nutricionista comendo isso?"  - Não, nutricionista é E.T. Não sabia, não?

POR QUÊ????

Porque as pessoas precisam observar, comentar, denegrir, comparar, competir, humilhar? Minha conclusão é que ninguém está satisfeito com o que é, e chamar a atenção para o defeito do coleguinha ao lado aparentemente tira o foco dos seus defeitos e desvia a atenção para o defeito dos outros.

Agora, e quando existem crianças envolvidas? Alguém já imaginou o que se passa na cabeça das crianças diante dessa ditadura da magreza, diante do caráter medido pela aparência física? Se nós, adultos, surtamos com essa cobrança excessiva, imaginem as crianças.

Muitas crescem observando as mães paranóicas com a aparência física, comprando todas as revistas de dieta e seguindo uma diferente a cada semana, obcecadas por plásticas, medicamentos, shakes, restrições, atividades físicas excessivas... e nada preocupadas com o exemplo que darão aos seus filhos. Muitas transferem suas metas para seus filhos e cobram que sejam perfeitos, que sejam magros para serem bem aceitos, amados, conseguirem um bom emprego ou um bom casamento. Aí a criança que não tem estrutura emocional para aguentar tudo isso “desde sempre”, pira. E a mãe vai dizer que não sabe aonde errou.


Eu não sei o que o glúten e a lactose fizeram para alguns médicos, mas parece que uma parte das minhas redes sociais procurou médicos que acreditam que eles são os vilões da dieta (e parece que se você comer, não só vai ficar gorda, mas vai adquirir o vírus ebola instantaneamente). A maioria, porém, nem se consultou com um “especialista”, mas se a vizinha postou que emagreceu assim, “eu também quero ter intolerância a lactose e a glúten”. E pasmem!!!! Quase todo mundo emagreceu!!!!  \o/ ???


Acompanhem comigo: o que sobra na dieta de um ser humano sem glúten e sem lactose? Pois é... quase nada. Quase impossível não emagrecer. A boa noticia é que se você fizer essa dieta por muito tempo, vai continuar magro (ou não!) porque talvez nunca mais consiga comer esses alimentos que cortou da sua dieta. O que acontece é que seu organismo “acostuma a viver sem digerir essas substâncias” e quando você (tentar) voltar a consumir esses alimentos pode ser que realmente tenha desenvolvido uma intolerância. Meta alcançada com sucesso! (ou não).

Ah, está bem, você ainda achou vantajoso? Pois saiba que existem muitas crianças (e adultos) no mundo inteiro que dariam TUDO para não ter essas duas intolerâncias. Dariam TUDO para comer um brigadeiro na festinha do amigo, dividir um lanchinho na escola, comer uma fatia de bolo no aniversario do primo ou almoçar em qualquer restaurante sem se preocupar. Mas não podem porque possuem limitações, problemas de saúde que causam consequências. Limitações estas que VOCÊ ESTÁ DISPOSTO A TER PARA EMAGRECER! E consequências essas, que você conhecerá em breve se ficar forçando seu organismo a viver no limite: infecções, imunidade baixa, deficiências de vitaminas, e por aí vai...

A cada dieta nova nas capas de revista, a cada descoberta milagrosa para emagrecer, concluo que as pessoas estão perdendo o discernimento. Talvez seja falta de oxigenação no cérebro por conta das dietas restritivas. E me preocupo muito com o que será de nossas crianças daqui a poucos anos. Os transtornos alimentares começam assim. Dietas, cobranças, frustrações, metas inalcançáveis, busca pela perfeição...e o ambiente está cada vez mais propício. #medo


A verdade é que o segredo para ter o corpo perfeito não existe. O corpo perfeito não existe. Esse conceito é subjetivo, porque cada um enxerga a perfeição de uma forma diferente. Buscar a perfeição imposta por nossas mentes e pela sociedade gera frustrações porque cada organismo funciona de um jeito. Além disso, as nossas metas e os padrões da moda estão em constante mutação. Assim, essa busca se torna infinita e a insatisfação e a busca pelo inalcançável viram um vício.

Eu não vou desistir de ser uma nutricionista nadando contra a correnteza. Acredito que é possível ser saudável, aprender o que faz bem e o que faz mal sem restrições nem excessos, ter um bom relacionamento com a comida e SER FELIZ!




Vou ali comer um pãozinho com glúten e cobertura extra de lactose e volto mais tarde!